segunda-feira, 15 de julho de 2013

eletrobras: demissões, reajustes, perdas e ironias.

Márcio Zimmermann: "Vocês estão....demitidos!"

Os tempos na Eletrobras não estão fáceis. Em maio deste ano, o Conselho de Administração da companhia aprovou um Plano de Incentivo ao Desligamento (PDI). A estatal esperava ter até 5 mil adesões, das quais, até o momento, cerca de 4 mil foram concretizadas. O Conselho é presidido por Márcio Zimmermann, considerado um dos homens de confiança da presidente Dilma no setor elétrico.

Os 5 mil dispensados da Eletrobras representariam 18% da força de trabalho da companhia, que é de 28 mil pessoas. A medida faz parte de planos para reduzir os custos em 30% nos próximos três anos. Os desligamentos, porém, também serão custosos: devem absorver entre R$1,5 bilhão e R$2 bilhões. A empresa espera que o "retorno" do gasto se dê em "cerca de um ano".

O corte

O estopim para as demissões na Eletrobras foi o anúncio, pelo governo federal, da redução das tarifas de energia em cerca de 20%. A medida, anunciada pela presidente Dilma em cadeia nacional de TV, foi bancada principalmente pela Eletrobras, que aceitou reduzir a receita proveniente de hidrelétricas e linhas de transmissão de energia antigas que estavam sob sua administração.

Os contratos de concessão desses ativos venceriam entre 2015 e 2017, mas o governo ofereceu renová-los antes com tarifas baixas para tentar dar maior competitividade à indústria e segurar a inflação. (Até pouco tempo antes, Márcio Zimmermann dizia que não havia pressa em tratar do assunto, uma vez que os contratos estavam longe de vencer).

Depois de aceitar a renovação nos termos propostos (outras empresas, como Cesp, Copel e Cemig negaram as condições ofertadas para as hidrelétricas e aceitaram apenas para a área de transmissão), a Eletrobras viu seu valor em bolsa despencar. A estatal reportou prejuízo líquido de R$10,5 bilhões no quatro trimestre de 2012 e de R$36 milhões no primeiro tri deste ano. A perda de receita é estimada em 70%.


A greve

É neste contexto que os empregados da estatal decidiram entrar em greve por tempo indeterminado a partir desta segunda-feira (15/7) por uma reposição salarial de 6,88% - inflação, calculada pelo Dieese -  e um ganho real de 4,3%, que seria o aumento no consumo de energia residencial no Brasil. A Eletrobras ofereceu reajuste de 6,5%, referente ao IPCA.

O sindicato da empresa calcula que entre 80% e 90% dos funcionários estejam parados.

Os representantes dos funcionários também protestam contra os cargos de confiança. Segundo eles, esse tipo de contratação, sem concurso público, engloba empregados que teriam um custo em torno de R$1,2 milhão ao ano.

As indefinições

Antes de o governo decidir pela redução das tarifas a Empresa de Pesquisa Energética, um órgão de planejamento do Ministério de Minas e Energia, admitia que o futuro da Eletrobras estava em discussão. O presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, dizia que caso as concessões de hidrelétricas e linhas de transmissão não fossem renovadas a empresa ficaria sem ativos, mas com uma estrutura imensa de funcionários para trás. No final, a empresa ficou com os ativos. Mas, como estes terão uma remuneração ínfima, os funcionários é quem darão adeus.

O Instituto Ilumina, que reúne especialistas no setor elétrico que já foram ligados ao PT, critica o desmonte da Eletrobras. Um dos aspectos que mais preocupa a entidade é a demissão de veteranos, já que o foco do PDI está nos profissionais com mais de 20 anos de casa. Eles acreditam que a estatal pode sofrer futuramente com a perda de experiência e know-how.

Investimentos?

Apesar de todas dificuldades, o Plano Diretor de Negócios e Gestão da Eletrobras, lançado em abril, tem como meta investimentos de R$52,4 bilhões até 2017. Desse montante, R$20,3 bilhões são para novos projetos.

Apesar das previsões de grande magnitude, o Valor Econômico reportou que a empresa precisou pegar um empréstimo do BNDES, de R$2,5 bilhões, como capital de giro para 2013. Ms o valor também foi usado para pagar aos acionistas - entre os quais a própria União e o BNDES - uma dívida antiga referente a dividendos que haviam ficado retidos por anos.

Os números elevados que envolvem a Eletrobras mostram sua importância na expansão do sistema. Quando o governo Lula implantou um novo marco regulatório para o setor elétrico, em 2004, a intenção era também transformar a Eletrobras em "uma Petrobras". A empresa é sócia dos principais projetos hidrelétricos em construção no País: as usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira (RO); Teles Pires, no rio de mesmo nome (MT); e o mega empreendimento de Belo Monte (PA).

Consultores que acompanham o setor elétrico, como Claudio Sales, do Instituto Acende Brasil, chegavam a reclamar de que a empresa praticava "taxas patrióticas de retorno" e restringia a participação do capital privado em prol de reduzir as tarifas nos leilões promovidos pelo governo.


Recordar é viver
Em julho de 2009, em meio à crise internacional, a Vale já havia demitido cerca de 2 mil de seus 62 mil funcionários (dos quais 46,6 mil trabalhavam no Brasil). A atitude fez com que o governo orquestrasse um movimento junto aos principais acionistas da mineradora para derrubar o presidente da companhia. Roger Agnelli saiu em abril de 2011, mesmo enquanto entregava resultados recordes.

(Roger Agnelli: "Obrigado Deus por me livrar dessa antes do fim do boom das commodities")


 Embora a Vale seja hoje uma empresa privada, o governo usou a influência que tem junto ao Bradesco - que não gosta de entrar em brigas políticas - e aos fundos de pensão, que também possuem fatia importante na empresa.

2 comentários:

  1. Obrigado pela análise esclarecedora. Essa é a gestão petista: arruinar os baluartes do desenvolvimentismo que eles mesmos louvam- Petrobras, Eletrobras, BNDS...

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  2. Se a preocupação com a saúde financeira da empresa fosse séria, acabariam com os vários cargos de confiança indicados apenas politicamente. Um desses indicados tem custo superior a R$ 650.000,00 por ano. Como são mais de 50, o custo supera R$ 32 milhões por ano !!

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