Recentemente, assistimos a uma disputa pelos ativos do Grupo Rede - um conglomerado de concessionárias de distribuição de energia à beira da falência que se encontra hoje sob intervenção do órgão regulador do setor elétrico, a ANEEL, devido ao risco de quebra.
De um lado, a Equatorial - que já comprou a "pior" empresa do Grupo Rede, a Celpa, por R$1- e a gigante CPFL. As duas empresas fecharam um contrato de exclusividade na aquisição com o dono da holding em dificuldades, Jorge Queiroz.
Mas, como a Rede entrou em recuperação judicial - o que já havia sido feito pela Celpa - a venda para o consórcio CPFL - Equatorial ficou condicionada à aprovação pela Assembleia de Credores.
O governo, quando viu que a "quebra" da Celpa deixou dívidas com o setor elétrico em suspenso, baixou uma Medida Provisória que proíbe que empresas de distribuição de energia entrem em recuperação judicial. Mas Queiroz usou uma jogada jurídica - pediu recuperação com a holding.
O Grupo Rede distribui energia em municípios de sete Estados e atende cinco milhões de consumidores. CPFL e Equatorial ofereciam R$2,5 bilhões, sendo parte para os credores e parte para quitar débitos setoriais das empresas adquiridas. Então surgiram o grupo mineiro Energisa e a estatal paranaense Copel na briga, com proposta de R$3 bilhões. A Copel depois saiu do páreo, mas a Energisa manteve o oferecido.
Em uma Assembleia de Credores muito tensa, foi decidido que seria quebrado o acordo de exclusividade com Equatorial e CPFL. No fim, os credores preferiram o plano da Energisa e o aprovaram, enquanto os concorrentes retiraram a aposta, contrariados.
Jorge Queiroz, do Grupo Rede: império da energia vendido por nada
É fácil entender, afinal, a frustração de Equatorial e CPFL. O negócio parecia certo e interessante. O setor de distribuição é um monopólio organizado em concessões. Oportunidades de aquisição não nascem da noite para o dia. E, de repente, um ativo de grande porte surgia no horizonte.
A CPFL tem caixa e muita experiência em distribuição. Tem ganhos de escala com o negócio. A Equatorial, por sua vez, tem em seu currículo a compra da Cemar, que atendia o Maranhão, por R$1, e a transformação da empresa falida em um bom negócio.
Recentemente, a Equatorial levou a Celpa, do Grupo Rede, também por R$1. Com a experiência de tornar lucrativa a rede do Maranhão, Estado que possui altos índices de furto de energia, a Equatorial acredita ter expertise para recuperar quase qualquer distribuidora mal gerida.
Juntas, Equatorial e CPFL têm caixa de R$3,3 bilhões. Não precisariam sequer emitir dívida para comprar o Grupo Rede. Embora, ao adquirir a Celpa, a Equatorial tenha captado dinheiro no mercado e mostrado que tem a confiança dos investidores nesse tipo de operação.
Já a Energisa é uma empresa centenária, fundada em 1905, que hoje tem algumas pequenas hidrelétricas, usinas eólicas em construção e cinco distribuidoras de energia. O caixa atual da holding é de cerca de R$1 bilhão, o que levanta a dúvida: de onde virão os outros R$2 bilhões?
Na primeira proposta apresentada na Assembleia de Credores, a Energisa pedia que estes financiassem sua aquisição, com novos empréstimos. A operação, no entanto, foi negada. E nem assim arrefeceu o interesse. Há pouco tempo, em 20 de junho, o GIF IV Fundo de Investimento em Participações (administrado pela Gávea Energia, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga) comprou 10,7% do capital da Energisa por um valor não revelado. Estaria aí a explicação para o ímpeto mostrado pela companhia?
Armínio Fraga, da Gávea Investimentos: fôlego financeiro para proposta da Energisa?
Parece que a ANEEL está atenta. Segundo notícia do Jornal da Energia, a capacidade financeira da Energisa para tocar o Grupo Rede preocupa, uma vez que a falta de recursos é hoje o principal nó a ser desatado nas empresas. Elas estão em intervenção há 12 meses e o caixa minguou de vez, o que tem dificultado muito o trabalho dos interventores nomeados pela própria ANEEL para administrá-las. Ainda assim, com a empresa vendida, a notícia diz que não é descartado que a intervenção siga.
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