domingo, 28 de julho de 2013

Edison Lobão, entre padrinhos santos e gafes no setor elétrico

Santo Edison


Reportagem do TV Folha na noite deste domingo (28/7) mostrou que José Sarney tem mantido com dinheiro público uma fundação dedicada a preservar o patrimônio e a memória de sua família. No acervo do instituto, quadros que retratam os Sarney e aliados políticos como santos. Entre eles, Edison Lobão, que aparece quase como um Frei Galvão, o santo brasileiro.

Advogado de formação e jornalista de profissão, o maranhense Edison começou a carreira política como deputado federal pelo ARENA, o partido da ditadura militar. Em 2008, quando era senador pelo PMDB, foi indicado pelo presidente Lula para o cargo de ministro de Minas e Energia. Assumiu no lugar de Silas Rondeau, também do PMDB, que era investigado por denúncias de corrupção. Na época, negou boatos de que a ex-ministra da pasta, Dilma Roussef, fosse contrária à sua nomeação. "Ela inclusive disse ter apreço por mim", apontou. Ele também tratou de rebater acusações de que não teria conhecimento técnico suficiente para o posto e disse que outros ministros de caráter político já haviam passado pelo MME.

Telegramas da embaixada americana obtidos pelo Wikileaks apontam que Lobão é "um ex-jornalista e político sem experiência na área de energia, em particular, que se comprometeu a se cercar de especialistas no assunto". O ministro é aliado de longa data de José Sarney, ex-presidente e senador que é um "coronel" do setor elétrico, uma vez que tem, tracidionalmente, nomeado ministros de Minas e Energia e diretores da Eletrobras. Ao sair do Senado para virar chefe do MME, deixou em sua vaga o filho, Edison Lobão Filho, também do PMDB.

Em setembro de 2012, quando a presidente Dilma Rousseff anunciou a Medida Provisória 579, que trazia uma série de complexas medidas para reduzir as contas de energia no Brasil, foi possível ver o quadro de "especialistas no assunto" de que tratava a embaixada americana. Na coletiva de imprensa para explicar as mudanças regulatórias, Lobão fez somente o discurso de abertura. Ao seu lado, encontravam-se diretores da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) - Nelson Hubner e Romeu Rufino -, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do próprio MME. 

Quando começaram as perguntas, Lobão saiu de cena - disse que precisava assinar documentos relativos à própria MP. Durante todo o dia, a equipe foi bombardeada por jornalistas ávidos por encontrar "furos" nas novas leis. À frente das respostas mais espinhosas ficaram o secretário-geral do MME, Márcio Zimmermann, um engenheiro com longa carreira na Eletrobras e considerado "homem forte" de Dilma no setor; e o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que tem ampliado sua influência junto à presidente e hoje dá pitacos em diversos setores, e não somente nos cofres públicos.

Os três chefes: Zimmermann, Lobão (meio) e Augustin


A saída de Lobão pode ter poupado o governo de algumas gafes. Logo ao entrar no ministério, ainda em 2008, ele disse que o governo tinha um plano para construir 50 usinas nucleares ao longo dos próximos 50 anos - uma por ano, em um total de cerca de 60 mil MW. Além disso, outras quatro usinas da fonte começariam a sair do papel imediatamente. 

O Brasil demorou anos para concluir suas primeiras usinas, de Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e ainda luta para terminar a obra de Angra 3. Essa última, paralisada em 1986, teve a retomada anunciada em 2008 e concretizada em 2010. O cronograma previa operação em 2015, mas a data passou para 2016 e, agora, prevê-se o fim apenas para 2018.

No mesmo dia da fala de Lobão, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, tratou de ir a público afirmar que tinha "uma boa relação" com o companheiro de governo, mas que o plano não parecia factível e era apenas "uma posição pessoal" de Edison.

No ano seguinte, em meio à dificuldade do governo para tirar do papel a polêmica hidrelétrica de Belo Monte, combatida por índios e ONGs, Lobão disse que tinha a "sensação de que existem forças demoníacas puxando para baixo o país", e impedindo a usina de ser construída. Em seguida, foi forçado a se retratar junto aos índios, que se sentiram ofendidos com o comentário, amplamente interpretado como um recado aos opositores do projeto. 

Índios: "declarações ofensivas" de Lobão


Na mais recente das gafes, em junho deste ano, o ministro disse, sem detalhes, que estava "procurando adiantar todo o processo de outras hidrelétricas e termelétricas para garantir que não haverá nenhum impacto no fornecimento de energia". No mesmo dia, o MME enviou nota à imprensa para explicar que a fala do ministro não implicaria em novos leilões de energia. A pasta também não explicou a que ele se referia quando falou aos jornalistas.

Enquanto isso, o que se comenta nos bastidores do setor é que os nomes mais fortes do setor elétrico são o de Márcio Zimmermann, considerado conservador e defensor da força estatal no planejamento; e de Valter Cardeal, diretor de geração da Eletrobras e mais que amigo de longa data da presidente Dilma Rousseff. O acadêmico Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) também tem grande prestígio no meio e ocupa o mesmo posto desde a reforma do setor comandada pelo PT em 2004. 








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