fonte: PDE 2021
O Plano Decenal de Energia é um documento feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), uma empresa de estudos ligada ao Ministério de Minas e Energia, com uma projeção da política energética para os próximos dez anos. Na versão atual, podemos constatar uma complexa realidade: a redução gradual da participação das hidrelétricas na matriz. A fonte, que é renovável e barata, tem perdido espaço para a geração térmica, mais cara e poluente. O documento da EPE projeta que as usinas hídricas, que hoje são 72% do total, serão 65% em 2015. Em 2021, 64%. Já as termelétricas passariam de 14% atuais para 17% em 2015. Em 2021 a EPE vê a fonte com 14% de novo, mas a meta foi traçada antes de o governo abrir espaço para usinas a gás e carvão no leilão A-5 deste ano - que contrata plantas que começarão a gerar em 2018.
Aliás... o leilão A-5 resume o "paradoxo ambiental" brasileiro, conforme definido pelo presidente da própria EPE, que traçou o estudo. O presidente do órgão, Mauricio Tolmasquim, lamenta a necessidade de trazer de volta o carvão. O que explica é a dificuldade de se garantir gás barato para novas térmicas e, principalmente, a impossibilidade de se construir hidrelétricas com reservatórios.
A legislação ambiental brasileira, considerada das mais duras do mundo, tem dificultado o andamento e mesmo a liberação de hidrelétricas. Com reservatórios, então...são vetadas, ou nem chegam a ter os estudos concluídos devido à "inviabilidade ambiental".
No Plano Decenal de Energia de 2006, a expectativa da EPE era de que chegaríamos em 2015 com 73% de geração hidrelétrica.São oito pontos percentuais a menos que o concretizado. E tudo leva a crer - perdoem-me o pessimismo - que as metas para 2021 não serão batidas no quesito hidrelétricas.
O prazo médio de construção de uma hidrelétrica é cinco anos. Mas o órgão vê como em operação já em 2017 a usina São Manoel, cujo licenciamento ambiental está paralisado desde que funcionários da EPE foram feitos reféns por índios. E espera para 2018 as de Ribeiro Gonçalves - que faz parte de um pacote de projetos que não atraíram investidores nos últimos leilões de energia - e São Luiz do Tapajós. Essa última, a maior de todas, está em fase de estudos ambientais e já enfrenta ações na Justiça, incluindo oposição de ONGs e do Ministério Público.
Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE, também já disse que o governo perdeu a batalha da comunicação. O presidente Lula chegou a dizer que gringos não iam dizer se o Brasil podia construir Belo Monte ou não. Mas a questão é que, além da oposição estrangeira e das ONGs, o governo tem parado na própria área ambiental. O Ibama não é tão ágil na análise dos documentos dos licenciamentos.
Tolmasquim (Agência Brasil)
O paradoxo ambiental está aí. Licenciamento travado, falta de projetos hidrelétricos, expansão das termelétricas, poluição, custo maior. Além disso, macroeconomicamente, a construção de uma hidrelétrica tem um efeito multiplicador da atividade econômica muito maior que de uma térmica. Uma termelétrica é uma estrutura e máquinas (muitas importadas). Uma hídrica envolve a movimentação de muitas toneladas de terra, metal, concreto, tratores, bombas de sucção, a construção de alojamentos, as refeições para os trabalhadores, etc - além de ter equipamentos que podem ser construídos quase totalmente no País.
De qualquer maneira, o leilão de energia A-5 tem 7,5GW em projetos cadastrados - número expressivo (embora só 400MW sejam hidrelétricos, da usina de Sinop). O setor elétrico brasileiro ainda parece realmente bastante atraente para os grandes investidores nacionais e internacionais.
Aparentemente o paradoxo ambiental, descrito como "O presidente do órgão, Mauricio Tolmasquim, lamenta a necessidade de trazer de volta o carvão." tenta justificar o injustificável. O paradoxo talvez seja este.
ResponderExcluirO ibama, como bem colocado, necessita de uma estrutura maior, e talvez voltada exclusivamente para o setor elétrico. No entanto, e notória a diferença de estágios de planejamento entre a área ambiental e o setor elétrico. Aliás, o planejamento do setor elétrico continua em grande (esmagadora) maioria de cunho top down, direcionando, ao invés de efetivamente planejar.