sexta-feira, 12 de julho de 2013

Estatais or not estatais: o novo panorama do setor de transmissão

Diretores da Chesf comemoram vitória em leilão de linhas


Em julho do ano passado, a ANEEL enfrentou um dilema no setor elétrico. As estatais do Grupo Eletrobras, controladas pelo governo federal, eram tradicionalmente agressivas nos leilões que ofertam a investidores a construção de novas linhas de transmissão em troca de uma remuneração previamente estabelecida. Mas essas companhias vinham com frequência atrasando as obras que eram resultados desses mesmos certames.

Por um lado, havia o ganho com os deságios oferecidos pelas estatais frente à receita-teto estabelecida para os empreendimentos. Por outro, os atrasos causavam prejuízos ao sistema elétrico e até custos ao consumidor.

A situação fugiu do controle quando a Chesf não conseguiu construir no prazo previsto alguns lotes de linhas que escoariam a produção de usinas eólicas no Nordeste.  Os parques de geração a vento ficaram prontos, mas não tinham como enviar sua energia para a rede. Logo, ficaram parados, à espera das linhas, que ainda não estão prontas.

Um dos diretores da ANEEL, Julião Coelho, calculou queo deságio das propostas da Chesf no leilão em que arrematou as linhas resultaria em uma economia de R$16 milhões para os consumidores. Enquanto o atraso fez com que o consumidor tenha que pagar cerca de R$377 milhões por uma energia que não está sendo entregue. (Isso porque o modelo dos contratos dos parques eólicos reduzia o risco destes, garantindo a remuneração pela energia caso a culpa pela não entrega fosse de terceiros).

Julião Coelho, da Aneel: custo-benefício vai contra as estatais


A ANEEL, então, proibiu que empresas com histórico de atrasos fossem líderes em consórcios nos leilões, o que atingiu Furnas e Chesf. No início, elas poderiam ter apenas 10% de eventuais consórcios. Depois a ANEEL aliviou e permitiu participação de até 49%.

Ao mesmo tempo, a paulista CTEEP, controlada pelo grupo colombiano ISA, anunciou que ficará de fora das próximas disputas. A empresa teve grande parte da receita cortada devido à renovação de concessões de transmissão antigas, que agora serão remuneradas praticamente apenas pelos custos de operação e manutenção.

Nos leilões deste ano os resultados dessa política foram visíveis. O primeiro certame, em maio, teve deságio médio de 12%, sendo que quatro dos dez lotes de obras oferecidos não tiveram propostas dos investidores.
Chesf e Furnas frequentemente ofereciam lances com deságios que geravam burburinhos no salão da BM&Fbovespa, onde acontecem os certames. Sem a força dessas estatais, o domínio ficou por conta dos espanhóis, que são tradicionais investidores do setor de transmissão, com Abengoa e Isolux.

Nesta sexta (12/7), o deságio médio voltou a ser de cerca de 12% - e novamente houve dois lotes sem lances.

Entre os vitoriosos, apareceram novos nomes, ao invés de players mais tradicionais. A holding J&F, dos donos do frigorífico JBS, levou dois lotes. Foi a segunda investida da empresa no setor – a estreia foi em leilão de 2012, quando ficou com um lote. As novatas MFG Engenharia, Geoenergy Energia e Geoenergia surpreenderam ao ganhar disputas. Furnas ainda conseguiu vencer em um lote, associada com a J&F e com a goiana Celg.

Novo panorama?
A ausência de Furnas e Chesf tem pesado contra os deságios. Mas, assim como a CTEEP, que também poderia ter ajudado a baixar os preços, a Eletrobras foi bastante afetada pela renovação das concessões. O que faz com que não fique muito claro se, mesmo sem a punição dada pela ANEEL, as empresas federais poderiam ser agressivas como antes.

Nesse cenário de menos disputa entre os empreendedores e de mais espaço para os agentes privados é que se darão os próximos leilões. O último do ano, que deve acontecer em dezembro, é o que está no foco dos investidores. Ele oferecerá a oportunidade de erguer um dos linhões que escoará a energia gerada pela hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. A linha terá 2,2 mil quilômetros de extensão.

Empreendimentos desse porte têm sido construídos por meio da associação entre diversos players, privados e estatais, devido à intensidade de capital exigida e à própria complexidade do projeto.

Sabe-se que a chinesa State Grid, a maior elétrica do mundo, que pertence ao governo chinês, está muito interessada nesse investimento. A empresa não fala de outra coisa desde que chegou ao País, em 2010, assustando o setor com aquisições de transmissoras no valor de R$3 bilhões. Eletrobras, Cteep, Abengoa, Copel e Cemig (via Taesa, sua controlada de transmissão) também estão de olho nesse leilão há tempos. 

Mas, agora que o cenário parece um pouco diferente, resta saber como será a competição por tal empreitada.

Os irmãos Batista, da JBS e da J&F: ambições no setor



A J&F tem caixa e tem Furnas como importante parceira, acrescentando know-how em energia. Tal configuração abre espaço para que os donos do JBS entrem de vez no setor elétrico, tendo a transmissão como porta de entrada. Essa, inclusive, tem sido a estratégia da State Grid. Que é sócia de Furnas em alguns projetos no Brasil e tem outras obras junto à Copel.   Algo me diz que os Batista e os chineses estão de olhos bem abertos.

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