Diretores da Chesf comemoram vitória em leilão de linhas
Em julho do ano passado, a ANEEL enfrentou um dilema no
setor elétrico. As estatais do Grupo Eletrobras, controladas pelo governo
federal, eram tradicionalmente agressivas nos leilões que ofertam a
investidores a construção de novas linhas de transmissão em troca de uma
remuneração previamente estabelecida. Mas essas companhias vinham com
frequência atrasando as obras que eram resultados desses mesmos certames.
Por um lado, havia o ganho com os deságios oferecidos pelas
estatais frente à receita-teto estabelecida para os empreendimentos. Por
outro, os atrasos causavam prejuízos ao sistema elétrico e até custos ao
consumidor.
A situação fugiu do controle quando a Chesf não conseguiu
construir no prazo previsto alguns lotes de linhas que escoariam a produção de
usinas eólicas no Nordeste. Os parques
de geração a vento ficaram prontos, mas não tinham como enviar sua energia para
a rede. Logo, ficaram parados, à espera das linhas, que ainda não estão
prontas.
Um dos diretores da ANEEL, Julião Coelho, calculou queo
deságio das propostas da Chesf no leilão em que arrematou as linhas resultaria
em uma economia de R$16 milhões para os consumidores. Enquanto o atraso fez com
que o consumidor tenha que pagar cerca de R$377 milhões por uma energia que não
está sendo entregue. (Isso porque o modelo dos contratos dos parques eólicos
reduzia o risco destes, garantindo a remuneração pela energia caso a culpa pela
não entrega fosse de terceiros).
Julião Coelho, da Aneel: custo-benefício vai contra as estatais
A ANEEL, então, proibiu que empresas com histórico de
atrasos fossem líderes em consórcios nos leilões, o que atingiu Furnas e Chesf.
No início, elas poderiam ter apenas 10% de eventuais consórcios. Depois a ANEEL
aliviou e permitiu participação de até 49%.
Ao mesmo tempo, a paulista CTEEP, controlada pelo grupo
colombiano ISA, anunciou que ficará de fora das próximas disputas. A empresa
teve grande parte da receita cortada devido à renovação de concessões de transmissão
antigas, que agora serão remuneradas praticamente apenas pelos custos de
operação e manutenção.
Nos leilões deste ano os resultados dessa política foram
visíveis. O primeiro certame, em maio, teve deságio médio de 12%, sendo que
quatro dos dez lotes de obras oferecidos não tiveram propostas dos
investidores.
Chesf e Furnas frequentemente ofereciam lances com deságios
que geravam burburinhos no salão da BM&Fbovespa, onde acontecem os
certames. Sem a força dessas estatais, o domínio ficou por conta dos espanhóis,
que são tradicionais investidores do setor de transmissão, com Abengoa e
Isolux.
Nesta sexta (12/7), o deságio médio voltou a ser de cerca de
12% - e novamente houve dois lotes sem lances.
Entre os vitoriosos, apareceram novos nomes, ao invés de
players mais tradicionais. A holding J&F, dos donos do frigorífico JBS, levou
dois lotes. Foi a segunda investida da empresa no setor – a estreia foi em
leilão de 2012, quando ficou com um lote. As novatas MFG Engenharia, Geoenergy
Energia e Geoenergia surpreenderam ao ganhar disputas. Furnas ainda conseguiu
vencer em um lote, associada com a J&F e com a goiana Celg.
Novo panorama?
A ausência de Furnas e Chesf tem pesado contra os deságios.
Mas, assim como a CTEEP, que também poderia ter ajudado a baixar os preços, a
Eletrobras foi bastante afetada pela renovação das concessões. O que faz com
que não fique muito claro se, mesmo sem a punição dada pela ANEEL, as empresas
federais poderiam ser agressivas como antes.
Nesse cenário de menos disputa entre os empreendedores e de
mais espaço para os agentes privados é que se darão os próximos leilões. O
último do ano, que deve acontecer em dezembro, é o que está no foco dos
investidores. Ele oferecerá a oportunidade de erguer um dos linhões que escoará
a energia gerada pela hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. A linha terá 2,2 mil
quilômetros de extensão.
Empreendimentos desse porte têm sido construídos por meio da
associação entre diversos players, privados e estatais, devido à intensidade de
capital exigida e à própria complexidade do projeto.
Sabe-se que a chinesa State Grid, a maior elétrica do mundo,
que pertence ao governo chinês, está muito interessada nesse investimento. A
empresa não fala de outra coisa desde que chegou ao País, em 2010, assustando o
setor com aquisições de transmissoras no valor de R$3 bilhões. Eletrobras,
Cteep, Abengoa, Copel e Cemig (via Taesa, sua controlada de transmissão) também
estão de olho nesse leilão há tempos.
Mas, agora que o cenário parece um pouco
diferente, resta saber como será a competição por tal empreitada.
Os irmãos Batista, da JBS e da J&F: ambições no setor
A J&F tem caixa e tem Furnas como importante parceira,
acrescentando know-how em energia. Tal configuração abre espaço para que os
donos do JBS entrem de vez no setor elétrico, tendo a transmissão como porta de
entrada. Essa, inclusive, tem sido a estratégia da State Grid. Que é sócia de
Furnas em alguns projetos no Brasil e tem outras obras junto à Copel. Algo me
diz que os Batista e os chineses estão de olhos bem abertos.
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