terça-feira, 20 de agosto de 2013

Disparada do câmbio acende sinal amarelo para o leilão de eólicas



Em dezembro de 2012, o governo promoveu um leilão de energia para contratar usinas que entrarão em operação somente em 2017. O resultado surpreendeu. Houve forte concorrência, uma vez que 14 mil MW em usinas conseguiram habilitação para participar do certame e tentar vender antecipadamente sua produção, mas foram contratados apenas cerca de 570MW. Com a dificuldade para se obter licenças ambientais para hidrelétricas e a falta de gás natural para térmicas, quem se deu bem foram os parques eólicos. A disputa levou a preços surpreendentes e inéditos: uma média de R$88 por MWh para a energia dos ventos.

Na época, porém, o próprio setor eólico alertou, por meio de sua associação, a Abeeólica, que os resultados não significavam um novo patamar de preços, mas sim um ponto fora da curva. Isso por causa da extrema competição causada pela reduzida contratação de energia pelo governo. Os parques vencedores do leilão, inclusive, eram projetos diferenciados: expansões de usinas existentes, com infraestrutura (linhas de transmissão, estradas, etc) pronta e contratos de compra de equipamentos já fechados em mega-acordos entre investidores e fornecedores.

De qualquer maneira, o sucesso do leilão deixou o governo animado. Foi marcado um leilão de reserva para este ano. Ele acontece agora, no dia 23 de agosto. A expectativa é grande, mas um fator surpresa pode atrapalhar. A disparada do câmbio.

Cotação do dólar entre um leilão e outro


Em dezembro do ano passado, o dólar estava na casa dos R$2,10. Nesta semana, bateu os R$2,40, mesmo com intervenções do Banco Central no mercado. Economistas veem reflexos do anúncio, pelos Estados Unidos, de uma redução na compra de títulos por meio dos programas que ficaram conhecidos como quantitative easing. Em resumo, essa política monetária expansionista dos EUA derramou dólares sobre os países em desenvolvimento, mas agora as verdinhas começaram a antecipar a volta para casa.

Não é só o Brasil que tem sofrido - moedas de outros emergentes também tem se desvalorizado. Mas há quem diga que a falta de transparência da política fiscal nos últimos tempos tirou a paciência do mercado e aumentou o fluxo de saída de dólares. Há analistas que já falam em dólar a R$2,50 ou R$2,70 no final do ano.

O setor eólico sofre efeitos do câmbio, uma vez que as usinas contam com equipamentos e serviços importados, o que abre caminho para uma surpresa. No final do ano passado, o BNDES, que financia os projetos do setor que vencem os leilões, decidiu aumentar a exigência de nacionalização por parte dos fabricantes de turbinas eólicas que vendem equipamento para o Brasil. O novo regime pode reduzir o peso do fator câmbio. No entanto, investidores do setor eólico alegam que tais regras - conhecidas entre eles como "o novo Finame" - encarecerão os equipamentos em uma faixa de 10% a 25%.

Além disso, este leilão traz a exigência do governo de que as usinas tenham acesso a linhas de transmissão já garantido (para evitar que usinas fiquem prontas antes das linhas, como aconteceu com projetos que deveriam ter começado a operar no ano passado, mas ficaram para este ano); e uma mudança na regra que calcula a "garantia física" da usina, que mede o quanto ela pode vender em energia. Nesse caso, os critérios foram apertados, para que se tenha maior garantia de que o prometido será gerado.

Temos, então, um conjunto de fatores que pressiona a competitividade dos parques eólicos nesse próximo leilão.
1 - Câmbio
2- Novas regras do BNDES.
3 - Menor competição (a contratação será menor que em 2012)
4 - Exigência de transmissão
5 - Nova regra de garantia física (P90)

Apesar de tantos fatores a serem ponderados, o preço da energia eólica surpreendeu positivamente em todos os leilões no qual a fonte participou desde 2009, o que deixa no ar a pergunta. Conseguirão as eólicas se superar novamente?

3 comentários:

  1. Amiguinho, boa a análise, mas vamos a algumas considerações.

    É, sim, verdade que o câmbio ainda tem algum impacto sobre uma parte (pequena, diga-se) do capex, que diz respeito aos equipamentos ainda importados, como a gearbox. Mas não é tão relevante para aqueles empreendedores que vão usar máquinas com alto conteúdo local.

    O Finame Novo está valendo, na verdade, desde o A-5 de 2011. No leilão do ano passado, os lances já consideravam isso. E dos 300MW de eólicas vendidas, cerca de 220MW não eram extensão de nada, eram parques novos, empreendimentos de alto risco é verdade, mas são novos.

    O P90 tem seu efeito também, mas o número de que pode encarecer 15% os parques saiu de dentro da EPE, ou seja, não tem a sensibilidade de mercado. Para alguns empreendedores muito sérios, o impacto vai ser marginal, porque eles já projetavam os seus parques para atender o P90, pois este é o critério exigido pelo BNDES para viabilizar os financiamentos.

    A questão da disponibilidade de conexão tem um efeito, apesar que menor do que se imaginava, já que 7.3GW de capacidade está livre e temos 9 mil MW de projetos habilitados - esses dados estão em uma NT conjunta da EPE/ONS .

    A competição para o próximo leilão vai ser muito acirrada. De um lado, teremos empreendedores que, se preciso fossem, poderiam baixar seus preços para a casa dos R$80 por MWh, sim. Não vão fazer isso para não queimar a gordurosa taxa de retorno dos empreendimentos, mas poderiam.

    Temos que considerar a curva de aprendizagem e a escala na produção dos parques. É inimaginável pensar que players como a Renova, Elecnor, Iberdrola, Bioenergy, não conseguiriam otimizar seus parques para se adequarem à competição.

    A grande questão está em ver players inexperientes bidando a preços inexequíveis. Isso pode acontecer.

    Acho que o governo vai contratar no mínimo 2GW de energia na sexta-feira. E no A-3 teremos mais 1GW. Vai ser o maior ano de contratação da fonte.

    Um Abrace.


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Interessante seu comentário sobre a "gordurosa" taxa de retorno dos empreendimentos.

      Acredito qus os grandes players, como Renova, Bioenergy, Elecnor, têm força para competir. A questão é descobrir o peso desses fatores - câmbio, Finame, P90, nos preços. Porque hoje estamos em uma taxa de câmbio de R$2,40, mas já vi análises mais pessimistas apontando para R$2,70 em 2014. Há uma incerteza importante no ar.

      Vamos ver qual será. O setor eólico tem surpreendido e passado por testes importantes. Se passar por mais esse, é um sinal de uma política de incentivo do governo que realmente funcionou (caminho Proinfa, leilões, Finame, exigências maiores por parte da EPE).

      Excluir
    2. Sem dúvida, será um teste de fogo.

      A questão é que temos o mercado livre como mercado alternativo para os players grandes. Eles não precisam queimar essa energia a um preço medíocre de leilão (apesar do IPCA). Eles podem vender no ACL. Olhe a Renova, quase metade é ACL, a preços muitos melhores que os dos leilões.

      Excluir