terça-feira, 1 de outubro de 2013

Um ano depois da MP 579, governo ainda não sabe como licitar usinas com concessão não prorrogada



Mais de um ano depois da edição da Medida Provisória 579, de 11 de setembro de 2012, que propunha a renovação de concessões de hidrelétricas cujas concessões estavam vencidas ou próximas disso, o governo ainda não decidiu o que fazer com os contratos que chegaram ao final. A CESP, que decidiu não aceitar os termos propostos para prorrogar suas concessões, está com a UHE Três Irmãos sem contrato desde 19 de novembro de 2011.

Em 7 de março de 2013, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), instada pelo Ministério de Minas e Energia, distribuiu a geração da usina da CESP entre as concessionárias de distribuição. A energia passou a ser valorada por uma tarifa estabelecida pela própria Aneel, que prevê apenas ressarcimento de custos com operação, manutenção e impostos, acrescida de um retorno de 10%.Isso tem representado uma receita mensal de cerca de R$5,7 milhões para a CESP.

A estatal paulista aceitou ficar responsável pela operação da usina até que o governo promova a relicitação da concessão. No leilão, a própria CESP poderá disputar nova concessão do ativo. A tarifa, é quase certo, será a mesma paga hoje à companhia.

Quando a concessão de Três Irmãos não foi renovada, o governo disse que ela seria colocada em leilão o quanto antes. A data prevista passou do primeiro para o segundo semestre de 2013 e, agora, para o final de janeiro de 2014.

O diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, admitiu que o leilão exigirá um edital "diferenciado", para que eventuais empresas interessadas tenham todas informações à disposição, uma vez que precisarão precificar a operação da usina para dar lances.

Quaisquer investidores terão que estar dispostos a correr os riscos inerentes ao projeto por 30 anos. Eventuais gastos extras que apareçam nesse período não poderão ser repassados à tarifa, a não ser com autorização da Aneel.

Até agora, as portarias publicadas pelo MME com disposições para o futuro das hidrelétricas cujas concessões vencerem excluem estrangeiros sem hidrelétricas no Brasil da competição por esses ativos - que têm a chinesa State Grid especulada como potencial interessada. A Portaria 123, de abril, diz que poderá ser exigida experiência em ao menos uma hidrelétrica no País. Enquanto a 214, de junho, pede atuação em uma hidrelétrica em operação há pelo menos cinco anos e com despacho centralizado pelo ONS, o operador do sistema brasileiro.



A BRIGA COM O GOVERNO
Outra hidrelétrica com concessão vencida é a de Jaguara, da CEMIG, sem contrato desde agosto. A empresa, porém, conseguiu uma liminar para seguir operando a usina nas mesmas condições contratuais até julgamento de sua ação.

Tanto Jaguara quanto a UHE Três Irmãos, da CESP, possuíam contratos de concessão que preveem o direito de uma renovação por mais 20 anos, desde que seguida a legislação vigente do setor no momento do fim do contrato.

O governo, ao publicar a MP 579, entendeu que alterou o marco legal e, assim, as empresas precisariam aceitar as novas regras para ter direito à prorrogação. Já as concessionárias alegam que todas outras usinas com contrato semelhante que tiveram vencimentos até agora conseguiram a prorrogação nos mesmos termos, e pedem o mesmo direito.

A consultoria PSR, do especialista Mário Veiga, afirmou em um estudo que é correto que o governo queira onerar as empresas como contrapartida pela renovação, mas entende que tal imposição devia ter sido feita anteriormente, para as concessões que já foram prorrogadas até 2012. Para preservar a isonomia e as expectativas, ele sugere que o governo devia aceitar prorrogar os contratos mais uma vez sem contrapartidas.

Posição semelhante têm o diretor da Aneel, Edvaldo Santana, e o ex-diretor Julião Coelho, que deixou o cargo neste ano. Para ambos, a decisão do governo quebra expectativas e aumenta a percepção de risco regulatório do setor elétrico, prejudicando o interesse de investidores de longo prazo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário